sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Extra Terrestres em Mindelo 04 Setembro 2009

Extra Terrestres em Mindelo 04 Setembro 2009(ASemana online)

Apesar do tremendo esforço dos pequenos empresários mindelenses para subsistirem, as dificuldades da ilha que ainda não encontrou o seu caminho, conduziram a uma crise económica, cozinhada em banho-maria ao longo dos tempos, que foi descapitalizando tudo o que se cria. A situação é: para se ser milionário em São Vicente tem-se que ser antes bilionário. Por: Carlos Araújo

Extra Terrestres em Mindelo
Em pleno cumprimento do nosso direito de cidadania, informamos que Mindelo foi visitado por extra terrestres vindos do planeta Praia e identificados como soldados do Ministério das Finanças.
1º -Diário de bordo
  1. Tratou-se de um encontro imediato do terceiro grau na medida em que não houve contacto físico, mas houve muita tentativa de troca de informação.
  2. Demonstravam desconhecimento total do terreno bem como do comportamento humano.
  3. Os extras terrestres taxam o trabalho em vez de o incentivar.
  4. Enquanto temos acesso a sentimentos e somos flexíveis, os nossos visitantes ficam por um raciocínio metálico de valores zeros e uns (dá lucro V=1 e não dá lucro V=0). Essa descoberta foi importante sobretudo para o nosso ego, visto que nos filmes de ficção científica é nesse momento que aproveitamos para demonstrar a nossa superioridade perguntando: E os sentimentos que norteiam a solidariedade humana! Aonde ficam?
Nós não estamos a brincar, acreditamos que se está a cavar um fosso demasiado profundo entre o Estado e a Nação e o poder começa a existir em função de si próprio. A filosofia do estado aparentemente superior porque quase robótica, está a empobrecer a sociedade retirando-lhe não só o poder criativo, como também o poder de escolha e de ser.
Apesar do tremendo esforço dos pequenos empresários mindelenses para subsistirem, as dificuldades da ilha que ainda não encontrou o seu caminho, conduziram a uma crise económica, cozinhada em banho-maria ao longo dos tempos, que foi descapitalizando tudo o que se cria. A situação é: para se ser milionário em São Vicente tem-se que ser antes bilionário.
Perante esta realidade, vem a inevitável pergunta do extraterrestre: Mas se estão perdendo dinheiro, porque não fecham? E com um sorrisinho nos lábios acrescenta:… é dos manuais. E nós ficamos pasmos e somos levados a pensar que são realmente extraterrestres. Caso contrário estaríamos perante um cinismo desmesurado.
Ora bem, este meu artigo tem um duplo objectivo e espero que um possa ser atingido.
O primeiro, irrealista, pretensioso e infantil, tem por fim o de encontrar uma plataforma de entendimento abaixo da qual não podemos descer e a partir da qual poderemos avançar para a procura de soluções que convêm a ambas as partes. Encontrada essa plataforma poderemos então utilizar a melhor arma para o combate à crise mindelense e que não é nada mais nada menos que o diálogo. Um diálogo despido de preconceitos, de certezas, de tabus. Um diálogo com “comunicação bidirecional”.
O segundo objectivo, bem menos nobre que o primeiro e por isso mais fácil de ser atingido, é provocar um certo mal-estar nos extra caso não consiga penetrar na áurea que um amigo meu detectou envolvendo os seres do poder.
Partamos então para a construção da nossa plataforma de entendimento:
  1. Todos os pequenos empresários mindelenses têm a consciência que os impostos devem ser pagos e gostariam de poder pagar.
  2. Os pequenos empresários mindelenses, que começaram milionários e que hoje são desmilionarios, isto é, milionários em dívidas, não são palermas nem maus gestores; são antes seres sensíveis que lutam para que muitos dos seus semelhantes tenham um posto de trabalho e a vida não seja só (nascê, oia, cagá e morrê).
  3. Passa a ser considerado um disparate, um erro de palmatória, uma falta de sensibilidade e atitude geradora de uma cultura menor, a racionalidade lógica do fisco que declara que quem não tem rendimentos deve fechar porque virá sempre outro.
  4. O fisco deve pôr-se em causa e tentar entender que algumas das leis com que rege foram mal estudadas, outras não se adaptam à realidade e há momentos em que algumas se tornam impossíveis de ser respeitadas.
  5. O diálogo deve ter como certo que os mindelenses apoiam o combate as fraudes, desvios e oportunismos que grassam quer no privado como nas instituições do estado.
  6. O diálogo deve levar ainda em conta que as pequenas empresas, ainda que “mal geridas”, são formiguinhas construindo o hoje, enquanto as instituições do estado são na maior parte elefantes gordos e de baixa produtividade para além de portadoras de uma cultura de relacionamento aquém do desejável para a sociedade de homens de que o país dispõe.
  7. Fazer os extras entender que taxar o trabalho é o mesmo que dar um tiro no pé. Para terminar quero informar aos muitos mestrados e estudiosos deste país que é no mínimo patético descobrirem sinais de riqueza apenas naqueles que verdadeiramente trabalham neste mercado tão pauperizado. Se os houver, chamem a polícia que o caso não tem nada a ver com as finanças.
P.S. Muitos já se posicionam para a corrida para a Presidência da Republica. Todos têm o perfil, aliás todos temos perfil, principalmente quando estamos de perfil, o que nem todos sabemos é o que iríamos lá fazer, pelo que penso ser interessante perguntar-se aos candidatos se têm alguma ideia de como facilitar a comunicação bidireccional entre os extras e os terrestres.
Em nome dos orgulhosamente falidos.

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