Esforço de síntese de parte da extensa entrevista concedida por:
CORSINO TOLENTINO, investigador e diplomata
(In NÔS KULTURA, pg 4, EXPRESSO DAS ILHAS nº 405, 2/9/09)
“A oficialização da língua cabo-verdiana não acresce nem traz novidades”
“… novidade seria prepara-la para ser utilizada nas escolas, nas igrejas, na universidade, na administração e na comunicação social.” Há que ter presente que “ … uma tese, duas teses, meia dúzia de livros sobre o assunto”, sendo um começo, não serão, contudo, suficientes, até porque, “As teses não transformam espontaneamente as sociedades”, podendo, entretanto, “estar erradas”.
... Não valerá a pena dar ares de se estar a inventar o crioulo cabo-verdiano, porque é anterior a nós e continuará depois de nós. “Portanto, o que é necessário é preparar a língua, e isso é tarefa que exige muito trabalho ao longo de décadas. Para termos os especialistas, as gramáticas, os dicionários, os manuais, os jornais, a capacidade de ler e escrever, e fazermo-nos entender na língua cabo-verdiana, precisamos de mais tempo do que parece.”
A publicidade enganosa, fazendo parte do jogo político cabo-verdiano, atrapalha e baralha o quotidiano e o futuro dos cabo-verdianos. Tanto assim é, que “Os partidos políticos ganham eleições e formam governos como consequência de um jogo do tipo publicidade enganosa … . São promessas que, se tivessem sido analisadas com rigor ético e técnico, nunca teriam sido feitas nem aceites. O PAICV terá prometido a oficialização da língua cabo-verdiana num prazo irrealista.”
Neste particular “ o processo parece viciado e é contra” este estado de coisas que “muita gente” se posiciona. Pois, "O diabo é que não se conhece o plano de implementação, os indicadores de avaliação, nem, obviamente, os relatórios técnicos”.
“ … Pretendeu-se fazer uma avaliação voluntarista do ALUPEK (alfabeto unificado da escrita do cabo-verdiano), considerado em regime experimental desde 1998” , sem que se tivesse cuidado do “devido suporte científico e técnico.”
“ … parece haver necessidade de mais versatilidade, melhor comunicação e tolerância efectiva em relação à diversidade linguística e cultural” do País.
É bom ter sempre presente que nos tempos que correm, e numa “sociedade democrática”, “não se impõe(m)” “a cultura e a língua” aos cidadãos, até porque “a Declaração sobre a diversidade cultural da UNESCO” estabelece o direito das crianças à educação na sua língua materna”.
PS. Sugere-se a leitura da entrevista pela sua pertinência e profundidade.
Eventuais discrepâncias produzidas são da inteira responsabilidade do bloguista.
By Nuno Paris.